Vitivinicultura no Sul de Minas – Um século de história

Texto por: Publicado em: 13 de dezembro de 2024

A vitivinicultura no Sul de Minas Gerais é uma atividade centenária, alicerçada na produção de vinhos de mesa elaborados com uvas americanas em pequenas propriedades rurais, que teve grande importância econômica até a década de 1980. A região sul do Estado engloba o município de Andradas que até hoje, apesar da diminuição significativa na área produzida, é conhecida como a “Terra do Vinho” devido à sua longa tradição na produção de vinhos. Há mais de 120 anos o município possui parreirais em sua área.

O primeiro produtor de que se tem notícia remonta ao ano de 1888. O auge da produção foi na década de 1950. Na época, o município contava com mais de 50 vinícolas. O declínio veio com a competição com as vinícolas do sul do país, dificuldades técnicas, obsolescência do parque videiro e a revalorização da cafeicultura.

O município de Caldas também faz parte, de modo significativo, do Circuito Espacial Produtivo da Uva no Sul de Minas. Há dezenas de pequenas vinícolas artesanais no território de Caldas, a grande maioria produz vinhos coloniais e de mesa, algumas para o consumo próprio e outras para venda em pequena quantidade.

Na condição de empresa pública a serviço da agricultura mineira, atuando desde a década de 1970 na difusão de tecnologias vitivinícolas, a Epamig estuda as potencialidades, restrições e espaços para o desenvolvimento da atividade no estado de Minas Gerais. Somado a isso, atua na transferência de tecnologias inovadoras, no desenvolvimento contínuo da cultura e nas oportunidades de negócio para o setor, como é o caso da produção de vinhos e demais derivados da uva.

A empresa tem como objetivo fomentar a vitivinicultura na região Sul de Minas, por meio de atividades que englobam a capacitação de produtores, introdução de novas variedades de uvas para diversificação de produtos e ampliação do período produtivo, melhoria dos vinhos já produzidos, incentivo à produção de novos produtos e ao turismo rural e/ou enoturismo.

Por muito tempo, o protagonismo do Sul de Minas na produção de uvas e vinhos ficou esquecido. Porém, recentemente, os vinhos produzidos no estado vêm ganhando espaço novamente, sendo premiados em inúmeros concursos nacionais e internacionais, devido à técnica da dupla poda. Essa tecnologia desenvolvida pela Epamig propicia uma alteração no período da colheita, permitindo a obtenção de uvas de excelente qualidade. Isso trouxe de volta o prestígio e vem atraindo os olhares para a produção mineira.

Com base nesta nova era vitivinícola em que o estado está entrando, entende-se que este é o momento de trabalhar o resgate histórico e cultural desta atividade, para que todos os atores envolvidos na cadeia produtiva possam ser beneficiados, unindo o potencial tecnológico inovador com a expertise de mais de um século de experiência.

Atualmente, foram aprovados projetos financiados pela Fapemig, que tem como objetivo o fortalecimento e resgate histórico cultural da vitivinicultura familiar na região Sul de Minas, por meio da avaliação de novas variedades de uva com maior aptidão de produção na região, bem como o desenvolvimento de novos produtos. Outra ação que vem sendo desenvolvida é a solicitação de uma Indicação Geográfica dos vinhos produzidos nos municípios de Caldas e Andradas, por meio de uma parceria entre a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), o Instituto Federal do Sul de Minas (IF), as prefeituras de Andradas e Caldas (MG) e o Sindicato da Indústria do Vinho de  Minas Gerais (Sindvinho), que deram entrada na solicitação da indicação geográfica no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

O fortalecimento da identidade cultural e histórica da região pode resultar em um fortalecimento da marca das vinícolas, contribuindo para a atração de turistas e consumidores que buscam novas experiências. O aumento da produção e a diversificação de produtos podem gerar novas oportunidades de emprego nas vinícolas e em setores relacionados, como turismo, gastronomia e agroindústria. A valorização da cultura local e a promoção de produtos regionais podem estimular o orgulho comunitário e o desenvolvimento de iniciativas locais que celebrem a tradição vitivinícola.

Angélica Bender

Pesquisadora em Enologia no Programa de Pesquisa em Viticultura e Enologia da Epamig Caldas.

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