
As chuvas da próxima estação e a crise climática em Minas Gerais
Quando falamos de recursos hídricos, paralelamente estamos falando de condições climáticas que alteram para mais ou para menos o volume de águas em nossas bacias hidrográficas. A preocupação quanto ao período de plantio das culturas ou a manutenção de culturas já implantadas é uma realidade para os produtores de todo o Brasil, uma vez que não temos mais os períodos das estações tão definidos e há mudança de cenário em algumas regiões do país. Destacamos nesta editoria ações de conscientização e reflexões sobre os recursos hídricos e a crise climática realizadas por entidades e instituições. Confira!
A Cooperativa Regional dos Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), atenta às questões que envolvem a cafeicultura, apresentou, no último dia 31 de julho, durante a realização do 6º Fórum Café e Clima, em Guaxupé/MG, as condições da atual safra de café e as expectativas para a safra 2025.
Primeiramente, o evento abordou os impactos de um ano atípico para a cafeicultura, que foi marcado por desafios climáticos como o El Niño, o qual afetou diretamente a produção. Para o próximo ano agrícola (2024/2025), com a possibilidade de chuvas mais regulares a partir do final de setembro/2024, a safra poderá ser melhor. Entretanto, o cenário ainda é de precaução devido às lavouras impactadas pela seca, altas temperaturas e estresses térmico e hídrico.
Os três palestrantes convidados chegaram a um consenso: o ano de 2024 tem sido particularmente difícil para o setor cafeeiro. O engenheiro agrônomo Guilherme Vinícius Teixeira, coordenador do Departamento de Geoprocessamento da Cooxupé, apresentou uma análise detalhada das condições meteorológicas da safra 2024/2025. Isso na área de atuação da cooperativa, que compreende mais de 300 cidades do Sul e Cerrado de Minas Gerais, além da Média Mogiana do Estado de São Paulo e Matas de Minas.
De acordo com ele, a safra atual enfrenta dificuldades significativas, devido a uma combinação de estresses térmico e hídrico. De antemão, as altas temperaturas e a amplitude térmica elevada comprometeram negativamente o armazenamento de água no solo, com impacto direto nas lavouras. Além disso, a quantidade de chuvas tem sido insuficiente, com aproximadamente 120 dias sem precipitações significativas desde março deste ano, conforme dados do Sistema de Monitoramento Meteorológico da Cooxupé (Sismet).

Guilherme Teixeira analisou as condições meteorológicas da safra 2024 2025 na área de atuação da Cooxupé
O agrometeorologista Marco Antônio dos Santos, sócio-fundador da empresa Rural Clima, compartilhou previsões detalhadas sobre a La Niña. Em primeiro lugar, o fenômeno deverá se manifestar este ano, entre o final de setembro e o início de outubro, com uma intensidade variando de fraca a moderada.
O La Niña desencadeará uma possível florada com bom pegamento e uniformidade. A expectativa é que o pico do fenômeno ocorra, especialmente, em janeiro de 2025, possibilitando um ano menos difícil para a cafeicultura, segundo o especialista. “O fenômeno possibilita essa condição, porém não significa que devemos ficar despreocupados. É preciso mudarmos a forma de ver o clima diante das mudanças climáticas que têm ocorrido”, apontou Santos.

Marco Antônio dos Santos compartilhou previsões sobre o fenômeno La Niña e seus impactos na cafeicultura.
O professor-doutor José Donizeti Alves, engenheiro agrônomo e docente em Fisiologia Vegetal na Universidade Federal de Lavras (UFLA), ressaltou que, embora as previsões de chuva se concretizem, as lavouras estão sob constante pressão e não apresentam mais o padrão de bienalidade.
Ele destacou, inclusive, que a necessidade de avançar na produtividade sob condições de estresse é essencial. E falou de estratégias para minimizar os impactos do calor e da seca, principalmente durante os períodos de veranicos.

O Prof. Dr. José Donizeti Alves explicou que as lavouras estão sob constante pressão e não apresentam mais o padrão de bienalidade.
ALMG
O presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputado Tadeu Leite (MDB), abriu na sexta-feira (09/08/2024) a etapa estadual do “Seminário Técnico Crise Climática em Minas Gerais: desafios na convivência com a seca e a chuva extrema”. Ele ressaltou a importância do momento para informar sobre os trabalhos desenvolvidos pelos grupos temáticos após sete encontros regionais realizados pelo Estado. Ao mesmo tempo, Tadeu Leite frisou não se tratar apenas de uma etapa final do seminário, lançado em 14 de março, mas de um ponto de partida.
Os Grupos de Trabalho (GT) apresentaram diretrizes contra efeitos das mudanças climáticas. Entre elas estão a criação de um fundo estadual para tratar de catástrofes climáticas, a recuperação de vegetações nativas, a expansão da agroecologia e a redução das desigualdades no acesso à água entre as regiões do Estado.
“Esse é o ponto de início do nosso trabalho, pois foram mais de 300 diretrizes alinhadas até aqui nos grupos temáticos. Agora, nos debruçaremos sobre elas e construiremos um plano de ação para ser posto em prática. Todos os deputados estão juntos nesta missão, não interessa a questão partidária”, observou o parlamentar.
O seminário mobilizou instituições parceiras, tendo sido uma oportunidade não só para apontar problemas e buscar soluções, mas também para conhecer em torno de 25 boas práticas já existentes em Minas na convivência com extremos climáticos. A importância de garantir orçamento para ações de convivência com os extremos climáticos também foi destacada pela vice-presidente da ALMG, deputada Leninha, e pelo deputado Gil Pereira (PSD). Ele ainda salientou que Minas já responde por mais de 20% da energia fotovoltaica produzida no Brasil, importante para a sustentabilidade ambiental, por se tratar de energia limpa.
As comissões
As discussões dos grupos temáticos, formados por representantes do governo, da academia, do setor produtivo e da sociedade civil, tiveram início em março último. Eles se reuniram para analisar planos e políticas públicas já existentes e apresentar propostas para aprimorá-los. O trabalho se dividiu em quatro segmentos: institucional, social, econômico-produtivo e ambiental. As reuniões do Grupo de Trabalho Institucional focaram medidas preventivas para conviver, mitigar e evitar os problemas causados pela crise climática, divididas em dois eixos principais: participação social e as competências privativas de cada ente da federação.
Entre as diretrizes propostas, estão a adoção de um sistema único de monitoramento em articulação com o governo federal para reunir informações atualmente dispersas e a criação de órgãos de defesa civil nos municípios do interior e de um fundo estadual para tratar de catástrofes climáticas.
Ambiental
Por sua vez, os trabalhos do GT Ambiental foram guiados pelos impactos das mudanças no clima sobre o meio ambiente, especialmente em relação à questão hídrica. Destacam-se, entre as diretrizes do grupo, ações para a recuperação da cobertura vegetal nativa, a adoção de barraginhas, estratégias de drenagem e o uso de técnicas produtivas seguras e sustentáveis, com a redução de agroquímicos e a expansão da agroecologia.
Econômico
Já o GT Econômico-produtivo discutiu a manutenção ou desenvolvimento de novas atividades econômicas sustentáveis. O apoio à agricultura irrigada, a expansão da rede de distribuição de energia solar, a segurança de barramentos da mineração, investimentos em ferrovias e a regulamentação do mercado de carbono foram as principais diretrizes apresentadas pelo grupo.
Social
Por fim, o GT Social procurou identificar os efeitos das mudanças no clima nas populações das diversas regiões do Estado. No rol de diretrizes propostas pelo grupo, foram citadas a redução das desigualdades no acesso à água, a proteção de povos e comunidades tradicionais, a ampliação de programas de habitação de interesse social e o apoio financeiro ao Sistema Único de Assistência Social (SUAS) para o atendimento de emergências climáticas.
Um relatório com as 332 diretrizes dos GTs foi entregue à ALMG, a qual irá analisá-las e definir sua agenda para viabilizar políticas públicas que promovam ações contínuas de caráter estruturante de médio e longo prazos. Ao todo, 368 instituições estiveram representadas nos debates, que reuniram quase mil participantes.
Crédito: Cooxupé, ALMG com redação