Em Minas Gerais, há muitas fábricas de cervejas artesanais, algumas comandadas por mulheres. No Sudoeste de Minas, a Birne é uma delas e cresce gradativamente com o seu chope artesanal.

Com a motivação de amigos e muita curiosidade, a produtora Helenice Pereira Carielo, de Carmo do Rio Claro/MG, começou a conhecer o universo das cervejas artesanais. Desconfiada — naquele período, há mais de cinco anos, não se falava em cervejas artesanais na região — e sem conhecer nada dos processos de fabricação, ela recebeu um kit de panelas e produtos dos amigos, fez um curso e começou os experimentos. Foram muitos até chegar a uma receita criada por ela e que agradou a clientela.

Mas, antes dessa experimentação toda, ela foi conhecer as cervejas artesanais no sul do país, na companhia do casal Regina e Luís Roberto Flores, que a incentivou a entrar nessa empreitada. No começo, tudo era diferente, não estava habituada a consumir o produto, mas, como ela mesma diz, depois de experimentar “pega-se” o paladar da nova bebida, diferente da tradicional, e começa a gostar.

Helenice sempre gostou da gastronomia. O preparo de pratos e festas é com ela mesma. Talvez, essa aptidão para os eventos já mostrasse esse seu lado empreendedor voltado para a produção de cervejas. Hoje, a cervejaria é seu mundo. Ela afirma gostar de todo o processo, dos aromas da produção, e ama o que faz.

“A Helenice é uma grande empreendedora. Sempre criou diversos produtos. A cerveja tem muito da cozinha, tem muito da alma da gente e alma é o que não falta na Helenice. Tínhamos certeza de que daria certo. A cerveja dela é uma delícia desde o início do processo de fabricação”, disse Regina Flores.

O difícil começar

No início, Helenice descartou muita cerveja, mas como dizia o seu amigo: tinha que encontrar a sua receita. E de experimento em experimento, foi se apaixonando pela nova função, pela nova profissão. Josiane dos Reis Quirino Santos, a Josi, que trabalha na fábrica até os dias atuais, foi seu braço direito desde o início. E depois de muitos experimentos nasceu a família Birne: Summer Ale, uma cerveja de alta fermentação de cor clara e leve, refrescante e ao mesmo tempo intensa. A segunda filha foi a Weiss, uma cerveja produzida com o malte do trigo com alta carbonatação, com toque seco mais aveludado. Depois veio a Pale Ale, uma cerveja de alta fermentação e de cor dourada; e por último a Stout, uma bebida mais escura, forte, porém cremosa com destaque para o malte torrado. O nome Birne foi uma indicação de um dos sobrinhos de Helenice, que significa “Pereira” em alemão, o sobrenome do pai dela.

Os sabores foram sendo difundidos e as cervejas artesanais ficaram conhecidas pelos carmelitanos, e seguiram país afora em formato de presentes para muitos que apreciam as cervejas artesanais.

Há dois anos e meio, a equipe cresceu com a chegada da nutricionista e nora, Nathalia de Souza Lara Carielo, que também se especializou em curso de mestre cervejeira e começou a atuar na fabricação.

Com mais uma integrante, a equipe começou a se especializar, a aumentar a produção, a buscar o registro no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Hoje, a cervejaria está totalmente legalizada e seus produtos podem ser vendidos para qualquer parte do país.

Nathália e Helenice

Novos voos

A produção foi crescendo aos poucos e elas investindo na fábrica, pequena, mas totalmente equipada e automatizada, chegando ao seu limite de produção e armazenagem de 900 litros por semana. O sabor das cervejas agradava a clientela, mas a falta de cultura para essa bebida na região não alavancava as vendas da maneira como gostariam.

Foi aí que, com a estrutura pronta, o André, filho da Helenice, sugeriu que a mãe criasse o chope da Birne. Começaram todo processo novamente em busca da receita ideal, a compra dos barris e muitos testes até chegar à receita deles. O chope conquistou mais espaço que a cerveja artesanal, pela questão cultural, e rompeu as barreiras do município.

A produção na cervejaria é totalmente comandada pelo trio: Helenice, Nathalia e Josi. Pai e filho, Rômulo Carielo e André, cuidam das vendas e das entregas. A comercialização tem como ponto forte eventos e festas. Assim, com o chope já participaram de alguns eventos na cidade. A venda em bares ainda é pequena, mas realizada em Carmo do Rio Claro.

Produção

E como chegar mais longe com mais praticidade? Com essa questão começaram a investir nos “growler” (recipiente com fechamento em rosca próprio para bebidas servidas na pressão), o que permite levar o chope para municípios mais distantes. O sonho é enlatar, mas esse processo vai esperar um pouco mais, pois elas querem equipar a fabricação com a filtragem, o que vai diminuir o tempo de maturação (hoje de 10 dias), e ter capacidade para produzir mais. A meta está lá, na parede do escritório, e é lembrada todo dia pela equipe.

A primazia pela qualidade é a busca diária dessas cervejeiras, que destacam o sabor da bebida, do chope artesanal, sem conservantes, somente com os ingredientes: água, lúpulo, malte e o fermento. E elas são apaixonadas pelo que fazem, e consideram todo o trabalho muito gratificante.

“Nós vibramos com cada conquista, com a compra de cada tanque, da câmara fria. Uma microcervejaria conseguir se equipar assim, com registro no Mapa, tudo legalizado, não é fácil, pois os impostos são pesados”, diz Nathália.

“Produzir na cervejaria é a minha vida. Ver o crescimento, a qualidade do produto, a produção, os elogios, é muito gratificante”, afirma Helenice.

Sustentabilidade

A fábrica da Birne está sediada na zona rural de Carmo do Rio Claro, no Sítio São Jorge. A preocupação com as questões ambientais está na planilha da fábrica. A energia é totalmente renovável. A qualidade da água usada na fabricação é testada regularmente e água descartada da fábrica é reutilizada na limpeza de áreas da fazenda.