Os desafios da pecuária leiteira

Texto por: Publicado em: 18 de janeiro de 2024

Rosivane Antônia Siqueira de Andrade é presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Passa Tempo há cinco anos, vice-presidente da Comissão da Pecuária de Leite de Minas Gerais e membro do Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do Estado de Minas Gerais (Conseleite) há um ano e meio. É produtora rural e atua na pecuária leiteira. A convite da revista Agro Magazine analisou algumas questões sobre o momento vivido pelos produtores de leite no país.


Rosivane Antônia Siqueira de Andrade

AM – A pecuária leiteira no Brasil vive um momento difícil com a importação de leite dos países do Mercosul. O setor está organizado para que essa questão seja resolvida e que o produtor tenha mais tranquilidade para trabalhar. Como você analisa a situação deste momento e como vê as iniciativas tomadas por entidades em defesa do produtor rural?

Rosivane – Realmente, estamos vivendo uma situação atípica este ano com o aumento exorbitante das importações; o clima com interferência do El Nino, períodos de chuva muito intensos e períodos de seca extrema com municípios decretando o estado de calamidade pública. Todos esses fatores estão interferindo muito na pecuária leiteira, desde a produção até a comercialização, principalmente, as importações. O setor tem se unido muito para buscar soluções. CNA, FAEMG, OCEMG, OCB, sindicatos rurais, parlamentares, associações e produtores junto ao governo vêm dialogando para buscar essas soluções. Porém, infelizmente, foram poucas evoluções e decisões concretas até o momento. Estamos aguardando o decreto que foi assinado pelo presidente entrar em vigor em fevereiro, para colhermos melhores resultados.

AM – O leite, como outros produtos, passa por altos e baixos na sua cadeia de produção e mercado. Na sua análise, porque não temos uma política que favoreça o consumo e traga mais estabilidade para a produção, diante do potencial que o Brasil tem em produzir leite em toda a sua extensão?

Rosivane – O leite é o único produto que se produz, se entrega e não tem determinado o valor a ser pago pela maioria das empresas. Algumas empresas fazem contratos baseados no Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada- Esalq\USP (Cepea) e no Conseleite, mas a grande maioria não tem essa prática.

AM – O que falta na cadeia produtiva do leite para que os produtores não enfrentem tantas adversidades?

Rosivane – Valorização do produtor pelas empresas para que possam enxergar que o leite é a matéria-prima essencial para diversos produtos. A facilitação com incentivos fiscais e subsídios pelos Governos Federal e Estadual também é essencial.

AM – Há um movimento contra o consumo de leite por alguns profissionais, indicando que não é um alimento necessário para a fase adulta. Há outras pessoas que evitam o consumo diante de alergias/patologias causadas pelo produto. Essas questões prejudicam o aumento do consumo pela população de uma forma geral?

Rosivane – Com a evolução da tecnologia, a mídia está tendo um papel muito importante para valorizar ou diminuir. No caso do leite, essas pessoas deveriam buscar conhecimentos e se embasar antes de publicarem suas opiniões.

AM – As ações do Conseleite já reduziram conflitos entre produtores e indústria. De que maneira?

Rosivane – A Comissão do Leite está trabalhando incansavelmente. O presidente Jonathan Ma sempre apresenta fortes argumentos levando a realidade da cadeia em vários municípios de Minas Gerais e outros estados. Juntamente com a FAEMG, temos reuniões mensais onde são apresentados os índices dos preços do leite, insumos e realidades de cada região.

AM – O preço de referência do leite, proposto pelo Conseleite, tem ajudado os produtores rurais?

Rosivane – Como disse anteriormente, o Conseleite era desconhecido da maioria dos produtores, mas com a atuação da comissão e sindicatos rurais esta realidade já está mudando. O objetivo da comissão é a adesão das empresas ao valor proposto pelo Conseleite. Uma maneira de melhorar as condições de negociação para o produtor.

AM – Além das questões de mercado da pecuária leiteira, o que é mais importante para o produtor no momento para garantir a sua sustentabilidade dentro dessa cadeia?

Rosivane – O produtor, da porteira para dentro, está sendo obrigado a se reinventar para conseguir arcar com as despesas e intempéries climáticas. Devido às várias situações que estão acontecendo, infelizmente muitos produtores vêm deixando a atividade em razão da falta de boas perspectivas para o mercado.

AM – Quais são os principais desafios do produtor de leite no país?

Rosivane – São vários: o preço do leite em declive, falta de mão de obra qualificada, sucessão familiar, insumos em alta e a questão climática. Esses fatores impactam de maneira desfavorável no rendimento do produtor.

AM – O leite é um produto consumido de várias formas na cadeia de transformação do alimento. Mesmo assim, porque o país não consegue aumentar o seu consumo?

Rosivane – O leite é o alimento necessário e indispensável na mesa da população em geral. Não só com os produtos derivados, mas como na utilização e no preparo de muitos produtos, receitas, panificação, etc. Entretanto, também devemos levar em conta novas alternativas de consumo, mas com valores nutricionais e qualidade inferior se comparado quando o leite é utilizado.

AM – A produção nacional é suficiente para atender toda a demanda do mercado?

Rosivane – No mundo inteiro, está tendo um recuo na produção do leite, uma queda muito significativa. Enquanto isso, a população cresce exponencialmente. Esse desequilíbrio se dá pela falta de valorização dos produtores, em especial dos pequenos e médios (maioria no Brasil), obrigando-os a saírem da atividade.

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