
CNMA: o maior evento de produtoras rurais da América Latina
O evento aconteceu em outubro deste ano, mas suas ações, seu aprendizado, vão reverberar por muito tempo em fazendas de Norte a Sul do país administradas por mulheres. Afinal, mais de três mil produtoras rurais e profissionais do agronegócio participaram, em São Paulo, nos dias 25 e 26 de outubro, do Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio (CNMA).
O tema de 2023 “Dobrar o Agro de tamanho com sustentabilidade: A Marca Brasileira” abordou o tripé: segurança alimentar, segurança energética e segurança ambiental, além de reforçar o papel das mulheres do agro como líderes conscientes da necessidade de diálogo e aperfeiçoamento dessas bases. Afinal, sem sustentabilidade não temos produção. Foram dois dias de muita informação e troca de experiências com produtoras de todo o país, dos mais diversos setores da pecuária e agricultura, nos espaços criados para o evento como a “arena máster”, o “agroédelas”, o “agro não para” e “hub técnico”.
A importância do Congresso para a capacitação, a troca de experiências e a mudança de postura na gestão do negócio foram destacadas pela maioria das produtoras ouvidas pela Agro Magazine. De São Gotardo, integrantes do grupo de mulheres da Cooperativa Agropecuária do Alto Paranaíba (Coopadap) e participantes do evento desde a primeira edição, destacaram a importância e ressaltaram que as capacitações promovem uma mudança na gestão do negócio e mudança de vida.
De Monte Santo de Minas, a produtora Juliana Paulino da Costa Mello destaca a troca de experiências. “No CNMA, pegamos a força da outra, o exemplo da outra, a maneira como a outra passou por determinadas situações que também passamos e, às vezes, teve uma decisão de maneira diferente daquela que tivemos e, muitas vezes, mais eficaz”.
Para Juliana, as apresentações sobre sustentabilidade foram marcantes. “Falamos e ouvimos muito sobre sustentabilidade, a regeneração do solo para que deixemos para os nossos filhos o solo igual ao que temos hoje. Eu já quero outra coisa, quero deixar um solo melhor do que o que eu recebi. Outro ponto importante foi a sucessão familiar, principalmente para nós mulheres que temos que fazer a sucessão para filhas, que é o meu caso. Eu tenho duas filhas, elas também precisam de suporte, e espero que sofram menos na tomada de decisões. Então, eu acho que esses dois pontos, pra mim, foram fundamentais. Preservar e melhorar o que vamos deixar e a maneira como faremos a sucessão”.

De Monte Santo de Minas, a produtora Juliana Paulino da Costa Mello
+ Sustentável
O tema deste ano foi amplamente apresentado para as congressistas desde a abertura do evento. A necessidade de aumentar a produção foi abordada de várias maneiras, mas ficou evidente o potencial do país em aumentar a sua produção de forma sustentável, sem desmatamento.
“O Brasil é o único país do mundo que pode oferecer essa trilogia (segurança alimentar, energética e ambiental) de forma convergente, na qual cada uma das pernas do tripé tenha sinergia com as demais. No sistema agroalimentar, somos convocados a aumentar a produção de alimentos, já que podemos expandir sem cortar uma única árvore”, pontuou José Luiz Tejon, curador de conteúdo do evento.
A Embrapa, presente ao evento com a presidente, Silvia Masrruhá, e outras técnicas da instituição, confirmou a informação e ressaltou que já identificou 30 milhões de hectares à disposição do agro brasileiro. Atualmente, segundo a instituição, a área que está inativa pode ser usada para dobrar a produção de grãos do país, levando em 10 anos a 600 milhões de toneladas de produção.
A diretora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), Thais Vieira, pontuou uma outra linha: que antes de produzir mais, temos que parar de perder alimento. Thaís destacou os dados do CEPEA, de outubro, que mostram que o agro representa 24% do PIB do Brasil em 2023 (com pequena redução), e irá alcançar até o fim do ano 2,6 trilhões de reais. O setor somou em outubro 28,3 milhões de pessoas em postos de trabalho, valor recorde acumulado desde 2012, com destaque para os setores de agrosserviços e insumos.
“Estes dados comprovam que sim, vamos dobrar nosso agro e chegar a 500 milhões de toneladas em 2040. Mas, realmente, precisamos? Provavelmente, não. Antes de começar a produzir é fundamental evitar o desperdício do que já está sendo produzido. Nós produzimos muito, somos os maiores exportadores de grãos, com safras recordes, porém atingimos o nosso limite. Esse é um sistema tão complexo e passou da hora de olharmos nossos gargalos para valorizar o alimento que é produzido com tanta responsabilidade e de forma sustentável, por meio de métricas auditáveis no mundo inteiro, mas também com a redução de desperdício”, detalhou Thais.
O professor emérito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Roberto Rodrigues, enfatizou a força dos países tropicais no aumento da produção de alimentos e que o Brasil vai liderar esse setor. Segundo Rodrigues, no Brasil a agricultura tropical vai resolver os três gargalos que são segurança alimentar, segurança energética e mudanças climáticas. “Quem vai liderar essa revolução é o Brasil, pois desenvolvemos internamente uma tecnologia tropical sustentável que mostra à exaustão como somos eficientes, produtivos e sustentáveis. Não somos mais o “país do futebol”, somos o país da segurança alimentar e da paz, pois não há paz enquanto existe fome”, disse Rodrigues.
+ Ações
Várias empresas participaram das mesas-redondas e apresentaram seus projetos de sustentabilidade e de capacitação de produtores para que possam produzir mais, mas com sustentabilidade. A diretora de sustentabilidade de Negócio Agrícola da Cargill na América Latina, Letícia Kawanami, destacou programas que a empresa mantém junto ao produtor, entre eles o de restauração de 100 mil hectares de mata nativa até 2027.
Outra ação da empresa, em projeto piloto com a Embrapa e outros parceiros, trabalha na produção da soja baixo carbono. O projeto, ainda em fase experimental, criará selo para aqueles que adotarem as práticas que reduzam a emissão de gases de efeito estufa, o que é amplamente valorizado pelo mercado externo.
+ Congresso
Na edição de 2023, além das brasileiras, participaram também produtoras da Venezuela, Argentina, Paraguai e representantes da Europa e América do Norte. O lançamento da edição de 2024 está previsto para o dia 07 de março.
