
Apaixonada pela cafeicultura
Christina Ribeiro do Valle tem 55 anos de experiência com a cafeicultura e quer deixar este legado – tudo aquilo que experimentou na sua fazenda – para as gerações futuras. E foi com esse espírito do bem que a produtora nos recebeu na sua propriedade, em Guaranésia, para contar e mostrar o quanto a agricultura regenerativa mudou a sua forma de pensar e conduzir as suas lavouras de café, depois de passar por tantos desafios com secas e geadas.
A produtora herdou a paixão pela cafeicultura do pai, o engenheiro civil Joaquim Magalhães Costa, guaxupeano, que se formou no Rio de Janeiro e lá exerceu grande parte da sua vida profissional. É a quinta geração da família que aposta na agricultura. Nas férias que passava na fazenda, adorava ficar no terreiro de café e, aos 22 anos, deixou a capital do Rio para atuar na fazenda em Minas Gerais.
Já produziu cafés em fazenda com mais de mil metros de altitude, mas hoje a sua produção está centrada numa área, próxima a Guaranésia, com 800 metros de altitude. O desafio de Christina é fazer o seu café produtivo e especial. E, por isso, ela foi se informando e fazendo uma série de experimentos na sua lavoura até chegar ao estágio atual.

Entre girassóis a lavoura de café segue se recuperando
Na gestão de entidades foi presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Guaranésia e participa da entidade desde a sua fundação, há mais de 40 anos. Também faz parte da SINCAL (Associação dos Produtores de Café), que luta por um preço mais justo do café, desde a fundação há 15 anos. Está entre o pequeno grupo de produtoras do município. Embora não tenha números oficiais ela acredita que, atualmente, 20 mulheres gerenciam propriedades rurais.
Novos tempos
Chegamos à fazenda em dia de inverno, mas de sol forte e muito vento. Mesmo assim, a produtora, que se restabelecia de um desgaste físico, nos recebeu com a sua intensa paixão pela cafeicultura e nos mostrou todo o processo implantado na propriedade, a recuperação das lavouras com o uso de biológicos, pó de rocha, plantas de cobertura e os benefícios da agricultura regenerativa.
Os resultados já são observados na qualidade do café e nas lavouras que cresceram e se renovam. Agora, o seu foco recai sobre a vida do solo, para restabelecê-lo de uma forma mais natural possível e, vê-lo vivo nutrir os cafeeiros e produzir frutos de qualidade com a devida diminuição dos custos.

Cristina e o seu gerente Adelino Ferreira Dias Neto.
Pesquisas
Christina sempre pesquisou muito sobre a cafeicultura e estava incomodada com o sumiço das minhocas e dos matos que existiam no meio dos cafezais como a serralha, a maria-preta, o capim gordura, que deram lugar a um emaranhado de cipós e plantas daninhas.
Em 2021, por um grupo de WhatsApp, conheceu Marco Antônio Jacob, produtor de café e grande estudioso da cafeicultura. Jacob já utilizava a técnica da cafeicultura regenerativa em Espírito Santo do Pinhal (SP), e começou a compartilhar seus conhecimentos e a incentivar e ajudar Christina a implantar esse novo método em sua propriedade.
Marcos Antônio Jacob, que também investe na agricultura regenerativa, e Cristina verificando a recuperação do solo
De repente, a produtora viu o seu café atingir a classificação de 85 pontos na tabela SCA e com um aroma diferenciado, nunca antes observado. No Concurso de Cafés Especiais do Sistema Faemg Senar, em 2022, ficou entre os dez finalistas e o café cereja em 5º lugar. Nada mal para o pouco tempo de trabalho de dois anos.
Na biofábrica
O mais natural possível
Com uma biofábrica na sua propriedade, Christina aposta na multiplicação de biológicos para os cuidados com a sua lavoura de café e do solo e, os resultados são positivos após quase três anos de implantação com controle biológico das pragas e doenças e muito mais economia no custo de produção.
Nesse processo da agricultura regenerativa, o objetivo é trazer mais vida ao solo, ajudando a biota a se recuperar através de plantas de cobertura como o nabo forrageiro, o girassol, a crotalária, a braquiária ruziziensis, o milheto e outras. Essas espécies, plantadas consorciadas nas ruas de café, fazem múltiplas funções, como o trabalho de descompactação e aeração do solo, reciclagem de nutrientes, produção de exsudatos radiculares que alimentam a biota do solo e o protege do calor excessivo dos raios solares, buscando resgatar o antigo solo de mata e, também, agindo com um herbicida ao impedir as plantas daninhas de crescerem.
“Queremos transformar o ambiente do café em um ambiente de terra de mato, como era antigamente. Essas coisas que estamos fazendo são fáceis, para que a natureza nos ajude. Daqui a alguns anos, vamos encontrar minhocas de volta ao solo”, diz a produtora rural.
Ela explica que os microrganismos presentes na biota do solo são os responsáveis por pegar os nutrientes, os minerais, sintetiza-los e entregar ao sistema radicular das plantas, os quais são sugados pela raiz, levando nutrição para a seiva da planta. E, com a fotossíntese, no seu retorno às raízes como seiva bruta, parte dela é expelida pelas raízes: são os exsudatos radiculares, que alimentam a biota do solo e interagem na parte física, deixando-o mais grumoso.
“As plantas de cobertura fazem verdadeiros milagres no solo como a ciclagem de minerais, a produção de exsudatos radiculares, o aumento da matéria orgânica, que preserva a umidade no solo, diminui a incidência dos raios solares, reduzindo a temperatura do solo e permitindo que as águas das chuvas, ricas em nutrientes, penetrem no solo e façam uma reserva hídrica mantendo o lençol freático. Uma reserva natural de água para os períodos de seca”, ressalta Christina.
A agricultura regenerativa está calcada em um tripé: plantas de cobertura, remineralização do solo e aumento de bactérias e fungos no sistema de produção via solo e pulverização foliar.
“O solo é um ser vivo. Em um copo de terra temos milhões de bactérias”. Com essa frase a produtora destaca a importância dos cuidados com a terra. “O uso da monocultura, aliada a herbicidas e produtos químicos, diminuiu significamente a biota do solo, agora temos que recuperar com ações naturais, como a agricultura regenerativa e menos uso de produtos químicos”, observa.
Para o futuro, seu objetivo é que o solo tenha vida, melhorando a qualidade da terra, e assim aumentar a produtividade das plantas cafeeiras, diminuir o custo e interromper a dependência do cafeicultor na compra de insumos.

Cristina recebe a visita de pesquisadores e produtores
O que é Agricultura Regenerativa?
É produzir em parceria com a natureza, potencializando as eficiências das condições tropicais do solo, combinado com a diversidade biológica, disponibilidade de água, calor e luz.
Modelo agrícola que defende a possibilidade de produzir e recuperar a terra e o meio ambiente simultaneamente. Os sistemas agrícolas regenerativos visam melhorar a saúde do solo e promover a biodiversidade durante a produção de alimentos.
Insumos biológicos
São insumos utilizados na forma líquida e obtidos de cepas biológicas, multiplicados na água, na presença ou ausência de ar (processos aeróbicos ou anaeróbicos).
Biota do solo
A biota do solo é o conjunto de seres vivos (macro e microrganismos) que habitam o solo.
Cristina minha querida amiga você está de parabéns .Sempre trabalhando em prol da cafeicultura.
Parabéns Christina!
Você é demais!
Parabéns à empresária Christina e à jornalista Denise, sou fã de ambas. Excelente matéria!
Parabéns Christina,seu amor e discernimento, vão além da visão! N. Senhora te ilumine sempre